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“Um organismo é qualquer ser organizado cujas partes concorrem para o bem do conjunto. Em certos autores, as partes que compõem os personagens são tão mal articuladas que lhes percebemos as fraturas, os remendos, as sobreposições. Estereótipo, como a etimologia grega nos diz, é algo sólido, duro. Personagens estereotipadas são os tipos que reproduzem preconceitos e o senso comum, sem nenhuma profundidade psicológica. Excelentes para comédias, frequentes em piadas, em fábulas rasteiras e em alegorias simplórias.” (Charles Kiefer, Para ser Escritor)

 

“Já vi personagens de todas as cores... de várias idades, de muitos amores. Sobre umas até certo tempo narrei.

Pra outras apenas um conto eu dei.”

E um grande olá, Escritores! Novamente, sejam bem vindos ao Blog Ecos Literários e vamos em frente com mais um pouco de estudos para nos tornarmos autores Best sellers super fod... tá, parei. Animei demais (para variar)!

 
E hoje temos mais uma temática superimportante para a criação de uma história! Afinal, uma narrativa precisa de determinados elementos e, a bola da vez é sobre Personagens. Já imaginou uma história em que só há descrição de lugares, sem indivíduos e ações? Não seria uma narrativa, seria uma descrição (dãããr...)

 

Então parar de enrolar e bora lá estudar! Primeira palavra que me vem à cabeça quando falo de criação de personagem é: M−O−T−I−V−A−Ç−Ã−O! Um motivo para ele estar ali, na história, seu objetivo, seu rumo, seu foco! Pensar na motivação de um Personagem é o núcleo central para sua criação.
 

Uma Personagem com motivação gera a chamada Unidade de Ação, quando toda a história converge para o(s) protagonista(s), ou seja, a história é constituída conforme as características e metas do personagem. Um clássico guerreiro de um mundo fantástico que precisa achar a pedra mágica para salvar sua vila da destruição! Ele irá vencer obstáculos usando seus saberes, experiências, habilidades, irá confrontar seus medos e expor os próprios defeitos a fim de realizar a missão, focando-se a história na jornada, tanto interna quanto externa, pela qual o Personagem passa.
 

E aí vai mais uma questão: por que raios o tal guerreiro iria passar por uma aventura repleta de perigos? “Ah, é porque ele quer!”, disse o escritor iniciante. Certo! É uma motivação! A vontade dele de ir à aventura é um objetivo e que dependerá de sua própria caracterização, apesar de ser uma motivação bem rasa. Ou pode ser que os habitantes da vila raptaram o filho do Guerreiro e só o entregam quando este retornar com a pedra. Pode ser que na aldeia esteja aquela mina gatinha que o Guerreiro quer tanto conquistar. Uma simples trama, diversas motivações para um Personagem, enriquecendo a história e dando-lhe não apenas o pontapé inicial, mas a própria caracterização deste sujeito!
 

A motivação é o que cria a personalidade desse indivíduo com quem você, Escritor, tanto sonha em escrever. Ou que você, Leitor Fiel, tanto se apaixonou ao conhecer! Um Guerreiro que vai para a aventura porque quer, demonstra uma personalidade aventureira; um Guerreiro que vai para a aventura para salvar seus filhos, demonstra uma personalidade paterna. E isso, mancebos e placebos, são requisitos inerentes à boa elaboração do personagem.
 

Caracterizar o Personagem significa apresentá-lo ao Leitor, e você só pode apresentar alguém que você conheça. Por isso, a nova palavra é background! 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Tá falando grego agora, Nangi?”. 

Não exagera, jovem padawan! Background, dentre outros significados, refere-se aos antecedentes do personagem, seu plano de fundo, aqueles fatos históricos de sua vida que não estão explícitos na obra, mas que você, Escritor, conhece!
 

Ou seja, monte uma pequena história de seus Personagens antes de entrar no livro. Um jovem consegue seu primeiro emprego em uma multinacional e se depara com casos de corrupção na empresa, podendo escolher se irá seguir o fluxo ou lutará contra isso. Faça o background desse jovem para você, Escritor. Como ele se relacionava com a família, como foi sua educação escolar, ele fala gírias, ele tem algum tique, medos, virtudes e defeitos, experiências, amores, dentre diversos outros elementos que modelaram o Personagem para ser o que ele é, no momento da história. Capice? 
 

Fuja de caracterizações superficiais, tornando-os pessoas capazes de serem identificados pelos leitores, de criarem empatias, de se tornarem reais, seja em uma história de drama urbano em São Paulo, ou uma ficção científica com alienígenas em Saturno! Formule as características psicológicas e físicas que o Personagem possui. Se era um grande assíduo das aulas de educação física na escola, terá agilidade, força, bons reflexos, será esportista, mentalidade dinâmica e extrovertida. Se fugia das aulas de educação física para se esconder na Biblioteca e se entulhar de livros, odiando exercícios físicos, terá a mente afiada, será intelectualmente espeto e reflexivo, introvertido, mas não terá boas condições físicas para corridas ou lutas, vencendo os desafios com a inteligência. Atente-se a estas qualidades e dificuldades, tornando-os humanos, mesmo que a história seja ambientada em lugares fantásticos e irreais.
 

Quer uma dica de ouro? Fichas de RPG! Deixarei link de referência abaixo, mas saca só que fenomenal! Criar um Personagem para jogar RPG se assemelha muito à criação de Personagens para escrever uma história. Requisitos como Nomes, Raça, Local de Nascimento, Idade, nível de Força, Constituição, Agilidade, Percepção, Carisma, Inteligência, Perícias de Combate, Virtudes e Defeitos, dentre diversos outros tópicos capazes de auxiliar você, Escritor, a escrever sobre indivíduos complexos e fortes, ao mesmo tempo em que se diverte criando-os!

"É aqui a ala dos Personagelescos da Mangueira Prateada? Opa... micareta errada, galera!"

E nova dica de ouro? Não ceda aos estereótipos. A jovem loira de olhos azuis indefesa, sendo raptada pelo vilão russo e salva pelo mocinho sarado, também de olhos azuis, com super habilidades e super dinheiro em um enredo clichê.

 

Ou, como tenho visto atualmente, histórias nos quais jovens saem de sua zona de conforto e enfrentam corporações em mundos distópicos, revelando-se grandes guerreiros espartanos, hábeis com todo tipo de arma e com uma sabedoria milenar que em seus 18 – 25 anos (Eita!) conseguiram adquirir... sabe-se lá onde! Respeito o sucesso (e até gosto de muitas dessas histórias!), mas tornam-se personagens irreais e não permitem aos leitores se identificarem com eles.

 

 

"Aqui pra você, óh! É minha história, faço o que eu quiser, seu marsupial sem dentes!"

Por favor, não precisa ofender, são só sugestões minhas! E sim, você pode colocar sapos com asas cantando Maria Bethânia na sua história, mas a empatia do Leitor surge quando este se encontra no Personagem, logo não espere que seu texto seja bem recebido pelo público. Leitores com dores nas costas e pernas, vendo um Personagem com os mesmos problemas e vencendo desafios é uma lição e uma inspiração para a vida!

 

Mulheres lendo sobre uma história feita apenas por guerreiros homens enquanto as personagens femininas são sempre relegadas a segundo plano, como eternas esposas carinhosas, mulheres subservientes e sem vozes... sinto dizer, você corre o risco de perder quase metade da população mundial com histórias assim (tá, exagerei, mas é só um exemplo hahahaha). Para fugir do risco de cair no estereótipo feminino, recomendo realizar o famoso Teste de Bechdel, indagando se em sua história há: duas ou mais mulheres com nomes, elas conversam entre si, e esta conversa não é sobre homens.

 

Mulheres atrás de homens, homens que são eternas máquinas de matar, jovens adolescentes que do nada se tornam escolhidos para salvar a humanidade e criam super habilidades, uma sociedade feita apenas por pessoas brancas e heterossexuais, negros sendo sempre trabalhadores braçais ou malandros de favela. Etc, etc, etc... 

 

Crie Personagens críveis e reais. Baseie-se naquele vizinho velho e gordo que corta gramas todo domingo para criar um vendedor de pizza que se apaixona por uma cantora da cidade, mas sente-se inseguro com seu visual e suas condições financeiras. Veja aquela sua professora de quarenta anos, seus defeitos e qualidades, seus saberes, sua forma física, e crie uma Personagem assim em uma trama de suspense policial, ao invés de ceder à eterna femme fatale ou ao detetive bêbado, retraído e galã.

 

Desafie-se na construção de Personagens que existem, mas não os torne caricatos! Rowling afirmou que Dumbledore é gay, assustando fãs que diziam “não o verem como sendo um”. Afinal, estamos tão acostumados a caricaturas e estereótipos em histórias que mudá-las, “assusta” o povo, pois humaniza os Personagens de maneira e criá-los de uma maneira real. "Talvez porque pessoas gays se pareçam simplesmente com... pessoas?", foi a resposta de Rowling e isso é um atributo que deve ser usado pelos Escritores que desejam criar Personagens apaixonantes, realistas e complexos. São pessoas, não blocos carnavalescos ambulantes!

 

Finalizando com uma frase de Stephen King: “Eu me interesso por pessoas boas em situações ruins, pessoas comuns em situações extraordinárias”. Pense bastante em seus personagens, torne-os críveis, faça com que os Leitores sintam empatia pelo fato de serem pessoas comuns realizando coisas extraordinárias, que se reconheçam neles, fortalecendo a ligação entre seu público alvo e a história que pretende narrar.

 

Sobre tipos de Personagens (protagonistas, oponentes, inimigos, dentre outros) falarei em um momento posterior, quando for dar dicas sobre elementos da Narrativa!

 

E mais uma vez, são sempre bem vindos para comentar, reler, desler, criticar, curtir e compartilhar este blog feito principalmente para vocês, sejam Queridos Escritores ou Leitores Fiéis!

 

Bons estudos e arrivederci!

 

 

Referências e Indicações

 

A Oficina #9 - Backgrounds. Davi Paiva. Disponível em: <http://www.overshockblog.com.br/2015/04/a-oficina-9-backgrounds_5.html>.

 

A Oficina #4 – O personagem (Parte 1). Davi Paiva. Disponível em: http://www.overshockblog.com.br/2014/08/a-oficina-4-o-personagem-parte-1.html>. 

 

Davi Paiva – Livros e Textos. PodEscrever, um podcast para escritores! Basta pedir os áudios na página em: <https://www.facebook.com/davipaivalivrosetextos/?fref=ts>.

 

Curso Vivendo de Inventar – Da ideia ao personagem. André Vianco.

 

Fichas de Personagens RPG. Centro Cultural D. Silver. Disponível em: <http://centrocultural-dsilver.blogspot.com.br/2012/11/fichas-de-personagens.html>.

 

Daemon – Trevas – Ficha de Personagem (editável). Biblioteca Élfica. Disponível em: <http://www.bibliotecaelfica.com/2015/12/daemon-trevas-ficha-de-personagem.html>.

 

Personagens: por que e como torná-los envolventes. Ronize Aline. Disponível em: < http://www.ronizealine.com/2017/01/personagens-por-que-e-como-torna-los-envolventes.html>.

Palestra – Personagens (Parte 1). Flávia Iriarte. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=_PAIGCfi1H4>

 

Palestra – Personagens (Parte 2). Flávia Iriarte. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=fu4c_3J6T-A>.

7 Estereótipos Masculinos de Hollywood. Nó de Oito. Disponível em: <http://nodeoito.com/estereotipos-masculinos-hollywood/>.

 

A Representação da Mulher no Cinema. Depois dos Quinze. Disponível em: < http://www.depoisdosquinze.com/tag/teste-de-bechdel/>. 

 

O que é o Teste Bechdel? Revista Mundo Estranho. Disponível em: < http://mundoestranho.abril.com.br/cinema-e-tv/o-que-e-o-teste-bechdel/>. 

 

6 Estereótipos Femininos que Hollywood Precisa parar de Usar. Nó de Oito. Disponível em: <http://nodeoito.com/6-estereotipos-femininos-que-hollywood-precisa-parar-de-usar/>.

 

J.K. Rowling responde fã sobre sexualidade de Dumbledore: 'Gays são simplesmente pessoas”. The Independent. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/jk-rowling-responde-fa-sobre-sexualidade-de-dumbledore-gays-sao-simplesmente-pessoas-15691528#ixzz4ZnLeV8KM> 
 

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