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Um escritor somente é escritor quando menos é escritor, no instante mesmo em que tenta ser escritor e escreve. Na absoluta solidão de seu ofício, enquanto a mente elabora as frases e a mão corre para acompanhar-lhe o raciocínio, é escritor. Nesse espaço, entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí. (Para ser Escritor, Charles Kiefer)


— Eu ouço vozes...
— Com que frequência?
— Todo o tempo... sou escritor!


Você se identificou com isso ou quer reler o diálogo para perceber a verdade? Somos Escritores, com milhares de vozes nas mentes, criando personagens, cenários, diálogos, cenas fantásticas ou corriqueiras, tudo em busca daquele lance que irá envolver seus leitores. Aquele lance chamado Narrativa.

 

Afinal, como escrever uma história sem narrativa? Se alguém descobrir, não me avise, pois estou mais do que satisfeito em narrar aquilo que as Vozes tanto gritam em minha mente, meus caros mancebos.

 

Portanto, borá lá explicar um pouco sobre esse lance magnífico que é inerente ao Escritor! Afinal, a escrita perpassa justamente pela narrativa, a qual é realizada adivinha por quem... tchan tchan tcharaaan... o Narrador, baby!

                       Não, Galvão... sinto muito, mas você não é esse tipo de Narrador que estou falando

Primeiro, devemos entender que Narrador é aquele sujeito que irá contar a história. Irá descrever as cenas, os personagens, as ações e conflitos. “Orra, Nangi, então eu sou o Narrador de minha própria história, não é”, perguntou o Escritor afobado.

 

“Palma, não priemos cânico!” Não, o Narrador não se confunde com o Autor, pois cada um habita um mundo diferente. 

 

“Iiih, começou a viajar...”

 

Narradores fazem parte da história, do âmbito fictício que se desenrola nas páginas de um livro, mesmo que esse Narrador seja parte de lembranças ou vivências reais do Autor. O Autor, por sua vez, vive no âmbito real, “aqui fora”, sendo ele o criador do Narrador dentro do livro. Findo o livro, o Autor continua sua vida, porém o Narrador se esvai. 

 

Como Charles Kiefer disse acima, “entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora”, ou seja, acaba o trabalho do Narrador após a escrita. E ele retorna apenas quando se abre para o Leitor, aquele que irá ser espectador dessa Voz que o Escritor passou de sua mente para o papel (ou tela, mancebos do século XXI).

 

Ah, as Vozes! O Narrador constituído, acreditem, pode ser mais de um! E a resposta é conhecida por todos: as vozes narrativas, ou, de maneira mais popular, Pessoas! 

 

“Vai mesmo queimar minha cabeça, Nangi! Pessoas ou Narradores?”

 

Como gosto de facilitar as coisas para você, meu querido visitante, bora aos clássicos tópicos sobre Narradores:

 

1) Narrador em Primeira PESSOA (“AH! Esse tipo de pessoa!”): o clássico “Eu”, aquela visão subjetiva do narrador, contando a própria história, participando dela seja como protagonista da ação ou testemunhando a ação de outros. É o Ponto de Vista (ou PdV, tópico que também será abordado em um momento futuro neste blog) pessoal. Ponto Positivo: possibilita-se uma maior aproximação entre o Personagem-Narrador com o Leitor, deixando transparecer todos os sentimentos, pensamentos, características, não havendo segredos para aquele que verá o personagem atuando na história. Isso permite ao Leitor que se simpatize com a Personagem cada vez mais, que se veja e se identifique nela, seja no romance “Cinquenta Tons”, de Stephenie Meyer, com as Leitoras Fiéis sentindo-se inebriada com as peripécias amorosas da protagonista; ou no conto “O Gato Preto”, de Allan Poe, com os Leitores sentindo o medo e a tensão do personagem em sua macabra história.

 

Retomando o exemplo do texto de dicas 1 (Sobre Contos), “uma moça em seu apartamento, requentando comida e relembrando de como seu passado de luta contra aliens zumbis vegetarianos fez dela uma cantora”, teríamos algo como: “O cheiro do feijão, por algum motivo que não compreendia, fazia-me lembrar o odor putrefato emitido por aquele último alien zumbi que detonei mês passado. Um cheiro que arrepiara minha coluna, embrulhara meu estômago e me fez decidir, finalmente, que era hora de largar minha missão como caçadora. Era hora de aposentar minhas armas e me tornar aquilo que sempre sonhei desde criança: ser uma cantora gospel”. Argh! Que lixo hahaha Mas que sirva como exemplo os fatos de: A) É mais seguro ser uma cantora gospel do que enfrentar aliens zumbis; B) O Personagem e o Narrador são a mesma pessoa quando se tratar de Narrador em Primeira Pessoa. 

E qual seria o outro tipo de Narrador? Uai, tá na cara que é o...

2) Narrador em Terceira Pessoa: o típico “Ele” ou “Eles”. Trata-se do Escritor contando a história de Personagens por meio de um Narrador. Ponto positivo: não se prende a um Ponto de Vista próprio do personagem quando em Primeira Pessoa, podendo narrar a cantora gospel na cozinha de seu apartamento ao mesmo tempo em que narra explosões de supernovas no distante planeta dos alienígenas zumbis! 

 

“Mas isso é magnífico, Nangi! E exemplos bem idiotas, né?”. Você diz isso, mas está com aquele sorrisinho maroto enquanto lê meu textinho básico, eu sei... 

 

Retomando! Um Narrador em terceira pessoa não significa que irá narrar sobre tudo e todos, mas sim que irá descrever a história como sendo uma testemunha desta. E aí temos o chamado:

 

2.1) Narrador Onisciente: é aquele sabichão, o visionário, o deusão da narrativa. Aquele que sabe tudo e vê tudo, tanto as cenas externas das ações, quanto as cenas internas dos personagens (pensamentos e emoções). E dividindo-se em:

 

2.1.1) Onisciente único (ou seletivo): escolha um personagem (a cantora gospel), narre em forma de 3ª pessoa, mas, contudo, porém, toooodavia, utilizando-se apenas do Ponto de Vista dela! Tudo se passa ao redor da Cantora Gospel Ex-Caçadora de Aliens Zumbis, mesmo que não seja a personagem narrando. É um PdV que sai dela e olha tudo ao redor conforme o olhar dela! Vide “Crônicas de Gelo e de Fogo”, no qual cada capítulo tem o nome do Personagem o qual terá o Ponto de Vista refletido, seja o Sabinada Jon Snow, seja o provador profissional de vinhos e meretrizes, Tyrion, foca-se no personagem e em sua visão de mundo, não se utilizando de uma narrativa em Primeira Pessoa.

 

2.1.2) Onisciente diverso (também conhecido como múltiplo): temos aqui um retorno ao Narrador Sabichão que, dessa vez, irá Narrar pensamentos, emoções e Ponto de Vistas de todos os personagens ao redor de uma mesma cena. “Complicado...?” Um pouco, talvez... corre-se o risco de confundir o Leitor, porém também garante uma maior abrangência da construção de cada personagem, demonstrando o que cada um pode pensar e fazer em uma mesma situação de conflito, expondo ao Leitor características destes personagens a fim de fazê-lo simpatizar ou antipatizar com cada um; ou apenas para manter a narrativa em um ritmo fluído e que permita a participação ativa de todos. Vide “Senhor dos Anéis”, no qual a corrida desenfreada de Frodo e Sam pelas terras de Mordor é narrada, em uma mesma cena, ora revelando o cansaço e sofrimento de Frodo, e, na linha seguinte, mostrando a atenção e desespero de Sam.

 

Sim, há outros Narradores! O chamado Narrador em Segunda Pessoa, porém não é muito mais utilizado (ao menos até onde minha limitada visão de reles mortal se encontra), por exemplo. Há aqueles Escritores que dizem alternar entre as pessoas em uma mesma obra (uma baita colocação de Narradores, “digassi di passage”, diria o craque Neto).

 

No entanto, decidi expor aqueles mais utilizados e bem vistos pelo público a fim de tentar iluminar sua bela e criativa cabecinha (Viu?! Continuo botando fé em você!!)

 

Bem, queridos Escritores e Leitores, fico feliz por terem me aturado por mais alguns minutos nesse texto que, espero eu, com muita humildade, tenha sido útil! Saber que a criação do Narrador é essencial a uma obra, torna-se a base da construção de uma história, aquele pontapé inicial para escrever a primeira palavra!

 

Quer mais! Com dificuldade em começar o texto que as Vozes (aqueeelas mesmas Vozes) tanto gritam em sua mente? Experimente os tipos de Narradores! Tente construir uma cena usando do Narrador em Primeira Pessoa, depois do em Terceira Pessoa! Veja qual se encaixaria melhor em sua história. Isso não apenas te ajudaria a encontrar melhor a história como, também, iria ser uma prova viva de que você é capaz de criar um Narrador e que contar uma história não é um bicho de setenta cabeças, bastando esforço, estudo e, claro, porque não, inspiração...

 

Não deixem de comentar abaixo o que acharam do texto, se curtiram ou odiaram, se querem reler ou desler, quais temas e dicas gostariam de ver nesse blog, quais narradores mais gostam e... bem, a palavra é toda sua!

 

Hasta la vista, visitantes!

 

Abraços literários!

 

 

Referências e Indicações:

 

Modos de Narração. Ficção em Tópicos. Disponível em: <http://ficcao.emtopicos.com/estrutura/modos-de-narracao/>.

 

Tipos de Narrador – Qual o ponto de vista da sua história? Escrevendo Fantasia. Disponível em: <https://escrevendofantasia.wordpress.com/2015/02/04/tipos-de-narrador-qual-o-ponto-de-vista-da-sua-historia/>. 

 

Começando seu livro – Narração. Vida de Escritora. Disponível em: <https://nomeumundo.com/2014/10/03/vida-de-escritora-comecando-seu-livro-narracao/>.

 

O Narrador. Como escrever um livro. Disponível em: <http://marcosmota.com.br/wp/?p=1993>.

 

Narrador e narratário. Teoria Literária #1 (vídeo). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nILzk2ykwts>. 

 

Passeando pela teoria literária #1: O Narrador. Vevsvaladares. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SpXUmflf8N4>.
 

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